Esquizofrenia: A Importância do apoio familiar
A Esquizofrenia é um transtorno mental complexo e muitas vezes incompreendido. Um de seus desafios centrais é a falta de crítica, que faz com que a pessoa não perceba que seus pensamentos ou percepções estão alterados.
Embora este texto tenha o objetivo de orientar pacientes, é provável que você, um familiar, amigo ou cuidador, esteja lendo, já que a falta de crítica dificulta que a própria pessoa busque ajuda. Assim, o seu papel é essencial para identificar os sinais, oferecer apoio e conectar o paciente ao tratamento.
Quais os Sinais de Alerta: A Fase Prodrômica?
Antes dos sintomas mais evidentes, como delírios ou alucinações, há a fase prodrômica, com sinais sutis que podem durar meses ou anos. Em famílias com histórico de esquizofrenia, reconhecer esses sinais é crucial. Fique atento a:
- Isolamento social progressivo: Afastamento de amigos ou atividades que antes eram prazerosas.
- Queda no desempenho: Dificuldades na escola, faculdade ou trabalho.
- Negligência com higiene ou aparência: Menor cuidado com o corpo ou roupas.
- Comportamentos ou crenças incomuns: Interesse intenso por temas esotéricos, filosóficos ou desconfiança excessiva.
- Alterações na percepção: Sensação de que sons estão mais altos ou cores mais vivas.
- Afeto embotado: Redução na expressão de emoções, parecendo apático ou indiferente.
Esses sinais, isolados, podem não indicar nada grave, mas, juntos e persistentes, são um alerta.
Como fazer o diagnóstico de Esquizofrenia?
Antes de fechar um diagnóstico tão complexo e impactante na vida do paciente, é importante sempre descartar quaisquer outros diagnósticos clínicos ou psiquiátricos, mesmo o paciente apresentando sintomas psicóticos.
O sintoma psicótico pode aparecer em diversos outros transtornos como depressão psicótica, TOC grave, Tr. do Estresse Pós Traumático, Tr. de Personalidade, além de poder ser decorrente ao uso de substâncias psicoativas.
Na parte clínica, uso de medicações como corticoide, antirretrovirais ou condições clínicas como epilepsia, tireoidopatia, tumor cerebral, demência, entre outros podem ser motivos dos sintomas psicóticos.
O diagnóstico em si é feito pelo psiquiatra, analisando a história dos sintomas, os relatos dos familiares e também pela anamnese. Geralmente um bom especialista sente um “cheiro” de esquizofrenia, o que chamamos de “praecox feeling”, mesmo o paciente não relatando os sintomas como alucinação.
Quais os tipos de Esquizofrenia?
A esquizofrenia pode se apresentar de diferentes formas. Aqui estão os principais tipos, explicados de maneira simples:
- Esquizofrenia Paranóide: Caracterizada por delírios paranoicos de perseguição, podendo apresentar alucinação auditiva e visual.
- Esquizofrenia Desorganizada: Envolve pensamentos confusos, fala desorganizada, além de quebra no seu funcionamento basal após o surto.
- Esquizofrenia Catatônica: Apresenta alterações motoras, como ficar imóvel por longos períodos ou realizar movimentos repetitivos sem motivo.
- Esquizofrenia Residual: Após episódios graves, os sintomas são mais leves, como apatia ou isolamento, sem delírios intensos.
- Esquizofrenia Indiferenciada: Quando os sintomas misturam características dos outros tipos, sem se encaixar em um só.
Quais os Sintomas da Esquizofrenia?
Os sintomas da esquizofrenia podem ser divididos em três categorias:
- Sintomas Positivos: Adicionam algo à realidade, como delírios (crenças falsas ou achar que alguém está roubando o seu pensamento) e alucinações (ouvir vozes ou ver coisas que não existem).
- Sintomas Negativos: “Retiram” características normais, como motivação, emoções ou interesse por interações sociais e também incluir a perda da capacidade cognitiva após o surto.
- Falta de crítica
A Importância de Desenvolver Crítica Sobre a Doença
Devido à falta de crítica, muitos pacientes não acreditam que estão doentes, o que dificulta a adesão ao tratamento. Ajudar o paciente a desenvolver crítica sobre a esquizofrenia é essencial, mas isso pode ser um processo gradual.
Em alguns casos, pequenas crises controladas, sob supervisão profissional, podem ajudar a pessoa a perceber que algo está errado e aceitar o diagnóstico e a necessidade de medicação psiquiátrica. O papel da família é apoiar esse processo com paciência, sem forçar a aceitação do diagnóstico de imediato.
Tratamento: Da Base às Novas Fronteiras
O tratamento da esquizofrenia é contínuo e combina diferentes abordagens para controlar sintomas e melhorar a qualidade de vida:
- Medicamentos Antipsicóticos: São a base do tratamento, reduzindo delírios e alucinações. O acompanhamento psiquiátrico regular é essencial.
- Medicações de depósito: Para pacientes que não tem uma boa aderência ao tratamento, indicamos medicações injetáveis de depósito que duram de 15 a 90 dias no organismo dependendo da substância. Ex.: Invega Trinza.
- Psicoterapia: Ajuda o paciente a entender a doença, desenvolver estratégias para lidar com sintomas e melhorar a interação social.
- Clozapina: Usada em casos resistentes, com eficácia comprovada, mas exige monitoramento rigoroso.
- Eletroconvulsoterapia (ECT): Um procedimento seguro e eficaz para casos graves, como catatonia ou depressão associada.
O Desafio dos Sintomas Negativos
Os sintomas negativos são os mais difíceis de tratar e impactam profundamente a qualidade de vida. As medicações convencionais ou o tratamento convencional atua geralmente nos sintomas como alucinação e delírio, mas são poucas abordagens eficazes para a perda da capacidade emocional e racional.
Como tratamento off-label, mas com resposta na pratica, temos indicado:
- Reabilitação Neurocognitiva: Exercícios para melhorar memória, atenção e organização do pensamento, como uma “fisioterapia cerebral”.
- Neurofeedback: Técnica que treina o paciente a regular suas ondas cerebrais, podendo aliviar alguns sintomas negativos.
- Novas Opções Farmacológicas: Medicamentos como a vortioxetina estão sendo estudados para melhorar sintomas cognitivos e negativos.
Dicas para Familiares Conversarem com uma Pessoa com Esquizofrenia
Abordar alguém com esquizofrenia exige cuidado e estratégia. Aqui estão algumas orientações:
- Não confronte delírios ou alucinações: Evite discutir ou tentar convencer a pessoa de que suas crenças ou percepções são falsas, pois isso pode gerar resistência ou desconfiança. Por exemplo, se ela acredita estar sendo perseguida, diga: “Entendo que você está preocupado, vamos conversar sobre como se sentir mais seguro.”
- Seja empático e acolhedor: Mostre que se importa com o bem-estar dela, sem julgar. Frases como “Percebo que você está passando por algo difícil” abrem espaço para diálogo.
- Induza a busca por ajuda indiretamente: Sugira consultar um psiquiatra por motivos como “melhorar o sono”, “reduzir a ansiedade” ou “se sentir mais disposto”, em vez de mencionar diretamente a esquizofrenia.
- Evite discussões durante crises graves: Em surtos psicóticos, a pessoa não consegue raciocinar com clareza. Foque em mantê-la segura e procure ajuda profissional.
- Considere a internação em último caso: Se a pessoa está em um surto grave, com risco para si ou outros, a internação pode ser necessária para estabilizá-la. Após o surto, com a pessoa mais calma, é possível conversar sobre o diagnóstico e o tratamento.
A esquizofrenia é uma condição desafiadora, mas tratável. O apoio da família, combinado com paciência, estratégias de abordagem e tratamento profissional, pode transformar a vida do paciente. Seu olhar atento e sua disposição para ajudar são os alicerces para que ele alcance uma vida plena e significativa.
Equipe Ito Psiquiatria
Texto revisado pelo Dr. Thomas Ito CRM-SP 129.440 RQE 43559.