Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): Quando as Memórias Ferem o Presente
O que é o Transtorno de Estresse Pós-Traumático?
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático, ou TEPT, é um distúrbio de saúde mental que pode se desenvolver em pessoas que vivenciaram ou testemunharam um evento traumático. Este evento pode ser um assalto, um acidente de carro grave, combate militar, desastre natural, abuso físico ou sexual, ou qualquer outra situação que ameace a vida ou a integridade física.
Diferente do estresse agudo, que é uma reação imediata e de curta duração, o TEPT é uma condição persistente, na qual as memórias do trauma invadem o presente, causando intenso sofrimento emocional e físico e interferindo significativamente na capacidade da pessoa de funcionar no dia a dia. A essência do transtorno não é a lembrança em si, mas a maneira como o cérebro e o corpo continuam a reagir como se o perigo ainda estivesse presente, mesmo em total segurança.
Qual a diferença entre a reação normal ao trauma e o TEPT?
É perfeitamente normal e esperado sentir medo, ansiedade, tristeza e ter dificuldade para dormir após uma experiência aterrorizante. A maioria das pessoas se recupera dessas reações com o tempo, com o apoio de amigos e familiares.
A diferença fundamental para o TEPT está na duração e intensidade dos sintomas. Enquanto a reação normal diminui gradualmente, no TEPT os sintomas persistem por mais de um mês e são graves o suficiente para causar problemas nos relacionamentos, no trabalho ou em outras áreas importantes da vida.
A pessoa com TEPT fica “presa” na experiência traumática. Ela não consegue processar o que aconteceu, e as reações de luta ou fuga do corpo são ativadas por gatilhos que lembram o evento, mesmo que sutilmente.
Eventos Traumáticos e a Sociedade Moderna
Vivemos em uma sociedade onde a exposição a notícias de violência, acidentes e catástrofes é constante. Embora a exposição indireta possa causar estresse e medo, o TEPT está mais diretamente ligado a experiências pessoais.
No entanto, a sensação de que o “mundo é um lugar perigoso” pode exacerbar os sintomas do TEPT, dificultando o controle do medo constante.
Sinais e Sintomas
Os sintomas do TEPT são agrupados em quatro categorias principais e podem variar em intensidade:
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Revivescência (Reexperiência): A pessoa revive o evento traumático repetidamente. Isso pode incluir flashbacks (sentir como se o trauma estivesse acontecendo novamente), pesadelos vívidos e pensamentos assustadores e intrusivos.
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Esquiva: A pessoa evita ativamente qualquer coisa que a lembre do trauma. Isso pode significar evitar lugares, pessoas, conversas, objetos ou atividades que possam desencadear memórias angustiantes.
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Alterações Negativas no Humor e Pensamento: Isso inclui uma visão distorcida e negativa de si mesmo ou do mundo, sentimentos de culpa ou vergonha, perda de interesse em atividades antes prazerosas e uma sensação de distanciamento e isolamento de outras pessoas.
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Hipervigilância (Excitação Aumentada): A pessoa fica em um estado constante de alerta. Sente-se sempre tensa ou “no limite”, tem dificuldade para dormir, irrita-se facilmente, tem explosões de raiva e pode se assustar com facilidade.
Causas e Fatores de Risco
Qualquer pessoa pode desenvolver TEPT em qualquer idade. A principal causa é a exposição a um evento traumático. No entanto, nem todos que passam por um trauma desenvolvem o transtorno. Alguns fatores de risco podem tornar uma pessoa mais suscetível, incluindo: histórico de outros transtornos mentais (como ansiedade ou depressão), falta de um bom sistema de apoio social após o trauma, ter vivenciado traumas anteriores (especialmente na infância) e a gravidade ou a natureza do evento traumático.
Fatores biológicos, como a genética e a forma como o cérebro regula os hormônios do estresse, também desempenham um papel importante.
Impactos do TEPT na vida diária
Os impactos do TEPT são profundos e abrangentes. A constante vigilância e ansiedade esgotam a energia física e mental. Relacionamentos familiares e de amizade podem se desgastar, pois a pessoa pode se tornar isolada, irritadiça ou emocionalmente distante.
O desempenho no trabalho ou nos estudos frequentemente cai devido à dificuldade de concentração e à fadiga. Para lidar com o sofrimento, algumas pessoas recorrem ao álcool ou a outras drogas, o que pode levar a um transtorno de abuso de substâncias, complicando ainda mais o quadro. A depressão e os pensamentos suicidas também são riscos significativos associados ao TEPT não tratado.
Qual o tratamento para o TEPT?
O TEPT é tratável, e a recuperação é possível. O objetivo do tratamento é ajudar a pessoa a processar o trauma, reduzir os sintomas e desenvolver ferramentas para lidar com os gatilhos. As abordagens mais eficazes geralmente combinam:
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Psicoterapia: É a linha de frente do tratamento. Terapias focadas no trauma, como a Terapia de Exposição Prolongada (PE) e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), ajudam a pessoa a confrontar e ganhar controle sobre o medo e os pensamentos distorcidos. A terapia EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares) também tem se mostrado muito eficaz.
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Medicação: O médico psiquiatra pode prescrever medicamentos, principalmente antidepressivos (como os ISRSs), para ajudar a controlar os sintomas de ansiedade, depressão e insônia. Eles não curam o TEPT, mas podem tornar os sintomas mais gerenciáveis, permitindo que a psicoterapia seja mais eficaz.
Dicas para lidar com gatilhos e buscar apoio
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Identifique seus gatilhos: Tente reconhecer quais situações, sons ou cheiros desencadeiam suas reações de estresse.
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Pratique técnicas de relaxamento: Aprenda exercícios de respiração profunda, meditação ou mindfulness para ajudar a acalmar seu corpo e sua mente quando se sentir sobrecarregado.
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Conecte-se com outros: Não se isole. Converse com amigos de confiança, familiares ou participe de um grupo de apoio para pessoas com TEPT.
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Cuide do seu corpo: Mantenha uma rotina de sono regular, alimente-se bem e pratique exercícios físicos. Isso fortalece sua resiliência emocional.
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Seja paciente consigo mesmo: A recuperação é um processo e tem seus altos e baixos. O passo mais crucial é procurar ajuda profissional qualificada.
Dicas para familiares de alguem com TEPT
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Entenda sobre o TEPT: Entender o que é o TEPT é o primeiro e mais importante passo. Não se trata de fraqueza ou “falta de vontade” de superar o passado.
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Ofereça um Ouvido, Não Soluções Imediatas: Muitas vezes, a pessoa não precisa de um conselho, mas sim de um espaço seguro para falar sem ser julgada.
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Ajude a Gerenciar os Gatilhos: Gatilhos são sons, cheiros, lugares ou palavras que disparam as memórias do trauma. Ajudar a criar um ambiente previsível e seguro é fundamental.
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Incentive o Tratamento Profissional: O apoio da família é vital, mas não substitui a ajuda de um profissional qualificado.
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Comunique-se com Calma e Paciência: As alterações de humor e a hipervigilância podem levar a conflitos. A forma como você reage pode agravar ou acalmar a situação.
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Cuide de Si Mesmo: Apoiar alguém com TEPT é emocionalmente desgastante. Se você não estiver bem, não conseguirá ajudar
Equipe Ito Psiquiatria
Texto revisado pelo Dr. Thomas Ito CRM-SP 129.440 RQE 43559.