Ito Psiquiatria

Transtorno Mental Secundário ao uso de Substâncias

Dependência Química: o prazer que acorrenta

Antes de mais nada, vamos falar sobre alguns conceitos, para que o problema da dependência química seja melhor compreendido.

O que é vício?

O que é vício?

O ser humano, por natureza, tem o seu cérebro programado para a busca do prazer. Dentre as opções dessa busca está a comida, o sexo ou o afeto alheiro.

Consideramos como comportamento dependente, ou seja, doença, quando a pessoa não consegue se saciar com os outros prazeres da vida, e fica compulsivamente em busca daquele único prazer, gerando prejuízo não só físico e mental, mas também no âmbito social. 

Esse comportamento dependente quando é por substância química é considerado Dependência Química, mas é importante ressaltar que não se dá apenas pela busca por substâncias psicoativas.

Todos os hábitos compulsivos, que implicam o dia a dia do indivíduo, fazem parte do vício, como por exemplo, o uso constante de smartphone, uso de internet, busca insaciável por sexo, jogar patológico, fuga no trabalho, fuga na academia, vício em pornografia, entre outros.

No ano de 2022 a Organização Mundial da Saúde OMS reconheceu pela primeira vez o vício em videogame e jogos eletrônicos. Milhões de pessoas sofrem com esse problema de saúde e com certeza futuramente isso implicará na saúde pública pois teremos muitas pessoas sedentárias com problemas cardiovasculares e que não conseguem ter uma vida social adequado. 

O que é Dependência Química?

Dependência química nada mais é do que o Comportamento Dependente direcionado a substâncias Psicoativas com o agravante de que essas substâncias causam uma grande alteração no funcionamento mental do indivíduo, gerando transtornos físicos e psíquicos.

Nenhum prazer é tão bom para o cérebro, como o que as drogas oferecem, devido a liberação anormal de dopamina. Por isso, o uso de substâncias psicoativas fazem com que a pessoa não consiga ver outros prazeres além da droga, estreitando o seu repertório de vida.

Além disso, a facilidade de obter as substâncias psicoativas, leva a uma ideia fixa pela busca imediata do prazer. Após qualquer estímulo eufórico ou de angústia, o uso dessas substâncias torna-se um ato impulsivo e compulsivo.

Com o passar do tempo, o organismo cria tolerância ao efeito dessas substâncias. Portanto, a tendência é o uso de doses cada vez maiores, para tentar atingir o mesmo nível de prazer inicial, ou mesmo de busca de outras substâncias mais fortes.

O não uso, por sua vez, gera sinais de abstinência, com sintomas físicos e psíquicos. Isso dificulta ao usuário conseguir se manter “limpo” e aumenta o risco de recaída.

Como diagnosticar Dependência Química?

Como diagnosticar Dependência Química?

É considerado Dependência Química ou Alcoólica quando a pessoa tem qualquer prejuízo relevante, devido ao uso de certas substâncias.

Nem toda pessoa que faz uso de substâncias todos os dias é dependente, mas pode existir dependente que usa droga de forma ocasional. Tudo está ligado ao quanto o uso compromete a rotina, assim como o grau de prejuízo que essa conduta dependente causa na vida do indivíduo.

Reforço em dizer que hábito dependente não existe só nos usuários de substâncias psicoativas. A dependência em outras atividades ou substâncias “menos tóxicas”, por exemplo, açúcar, chocolate, também caracterizam um vício.

O uso ou não de drogas é meramente ideológico. Essa barreira pode ser quebrada a qualquer momento e, do mesmo modo, não muda o fato de a pessoa ser dependente.

Quais os riscos de uma pessoa se tornar dependente químico?

Existem alguns fatores de risco que aumentam a chance de um indivíduo desenvolver dependência química, como por exemplo:

  • * início do uso de álcool e/ou uso de tabaco em idade precoce
  • * baixa qualidade de vida, dificultando o acesso a pequenos prazeres
  • * baixa continência familiar, diminuindo a tolerância a frustrações
  • * ambiente com oferta de drogas
  • * genética, com familiares dependentes químicos

Como tratar a dependência química?

O tratamento da Dependência Química se divide em 3 etapas:

Tratamento da abstinência

A abstinência é uma doença clínica, na qual o indivíduo sofre diversos sintomas físicos e psíquicos, devido a falta da substância, podendo chegar a morte.

Assim, o tratamento sempre deverá ser realizado em ambiente seguro, de preferência internado em hospital clínico, com uso de Benzodiazepínico. Essa etapa dura de 5 a 30 dias.

A abstinência de álcool por exemplo, em casos mais graves não tem como ser tratada em ambulatório de alcoolismo pois pode apresentar convulsão e sintomas de delirium tremens com risco de vida. 

Tratamento da comorbidade

Em 90% dos casos, o paciente desenvolve algum transtorno psiquiátrico além da dependência química, como por exemplo, Depressão, Ansiedade, Psicose (vulgo Esquizofrenia) e Pânico.

Enquanto não for medicado para cada comorbidade, o indivíduo terá grandes chances de recair devido ao sofrimento gerado por essas patologias.

Motivação para o tratamento

No tratamento da dependência química, 70% é a vontade do indivíduo em libertar-se do vício. Então, para melhorar o alcance, usamos a entrevista motivacional e a psicoterapia.

Grupos anônimos também ajudam na motivação para manter-se abstêmio.

Os outros 30% depende de fatores sociais, que possibilitem a busca por prazer em outros campos que não a droga. Isso inclui a família estruturada e em tratamento, emprego, amigos saudáveis, espiritualidade, entre outros.

Infelizmente, não há nenhum método que seja 100% eficaz no tratamento da dependência química. Mas, no fim, o importante é a somatória do uso de diversos instrumentos para tirar o dependente da compulsão e mantê-lo saudável.

Quando internar o Dependente Químico?

A internação em uma clínica de reabilitação é o último recurso utilizado para ajudar o dependente a não perder a vida devido à droga. 

Pode ser usado quando o paciente não tem mais crítica, juízo da realidade ou quando não consegue parar de usar, mesmo com toda ajuda oferecida no ambulatório.

Nunca recomendamos uma internação muito longa. É fácil o paciente se manter abstêmio dentro da Clínica, mas o difícil é se manter “limpo” fora da instituição e é no ambulatório que o paciente vai aprender a não usar enquanto vive.

Assim, as internações devem ser curtas para que o paciente aprenda a cada recaída e a cada internação, com aumento cada vez maior de chance de recuperação.

A internação não tem como objetivo tratar por completo a dependência. O máximo que a internação pode oferecer é:
1- Tirar o paciente da compulsão
2- Proteger o paciente dos sintomas da abstinência
3- Tratar as comorbidades
4- Dar condição racional sem o efeito da substância do paciente decidir se quer continuar ou não o uso
5- Caso o paciente queira parar, criar habilidades para prevenção de recaída

A internação não irá fazer uma lavagem cerebral, não irá convencer o paciente a não usar, não irá resolver os motivos do uso como problemas familiares, problemas sociais e problemas financeiros. 

Dicas para a família de dependente: Como ajudar o Dependente Químico?

  • * Não ajude o paciente a esconder a dependência da sociedade. Isso só prorroga o início do tratamento.
  •  
  • * Aceite que tem um dependente químico na família e encare da mesma forma que enfrentaria outros problemas.
  •  
  • * Não tente controlar o paciente. Não há controle se o paciente não quiser parar. Dessa forma, irá desgastar a relação com o paciente e consumir a família. Se o caso for grave, procure ajuda com o psiquiatra ao invés de tentar controlar.
  •  
  • * Se recair, era para recair. Não é culpa de ninguém. O máximo que aconteceria é adiar em alguns dias a recaída, mas isso seria prorrogar o reinício do cuidado.
  •  
  • * Melhor recair, aprender e seguir o tratamento do que prorrogar a recaída de alguma forma não natural, por exemplo, deixar o paciente trancado em casa.
  •  
  • * Procure ajuda para si mesmo, para não adoecer e piorar a situação do paciente. Ou seja, para ajudar o outro é preciso que esteja bem emocionalmente.
  •  
  • * Com acesso à internet, procure o máximo de informações a respeito de diversos tratamentos e veja qual se adequa mais a situação do seu familiar. E mantenha sempre informados sobre a condição do dependente. 
  •  
  • * Não caia no golpe de muitas clínicas que prometem cura, ou prometem sucesso no tratamento com uma internação longa. 

Dicas para o Dependente: Como sair da dependência?

    1. Aceite que tem comportamento dependente.
    2. Aceite que não tem controle sobre si mesmo, bem como não tem controle sobre o uso.
    3. Pode demorar, mas em algum momento vai voltar ao mesmo padrão de uso da “ativa”.
    4. Crie várias estratégias para prevenção de recaída.
    5. Não tente recuperar o “tempo perdido”. Tente viver o presente da melhor forma possível e não refazer o passado.
    6. Peça ajuda.
    7. Você é o responsável pelo sucesso do tratamento. 

Caso você suspeite que tenha Dependência e esteja difícil de superá-la sozinho, procure ajuda de um profissional da saúde mental. Os profissionais da Ito Psiquiatria são altamente capacitados para lhe auxiliar a enfrentar esse desafio.

Equipe Ito Psiquiatria 



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Dr. Thomas Katsuo Ito

Psiquiatra formado pela USP, colaborador do IPq – HC FMUSP e do consulado Japonês, psiquiatra transcultural referência em atendimento em japonês da Escola Japonesa do Brasil e Hospital Santa Cruz, presidente da Comissão de Ética do Pronto Socorro João Catarin Mezzomo e docente da pós graduação do CEFATEF e da Uni São Paulo.

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Dr. Thomas Katsuo Ito

Psiquiatra formado pela USP, colaborador do IPq – HC FMUSP e do consulado Japonês, psiquiatra transcultural referência em atendimento em japonês da Escola Japonesa do Brasil e Hospital Santa Cruz, presidente da Comissão de Ética do Pronto Socorro João Catarin Mezzomo e docente da pós graduação do CEFATEF e da Uni São Paulo.